Infomoney, 09 de setembro de 2024
Debêntures vivem ano de ouro, mas têm taxas espremidas; ainda vale a pena investir?

O crédito privado brasileiro está vivendo um de seus melhores momentos em 2024. Com emissões de debêntures que somaram impressionantes R$ 206,7 bilhões apenas no primeiro semestre, o mercado atingiu o maior patamar de sua história para esse período. Um cenário impulsionado por mudanças em instrumentos financeiros como CRIs, CRAs, LCIs e LCAs, que fizeram com que os investidores se voltassem ainda mais para as debêntures incentivadas. Mesmo com a queda dos prêmios, comparando com os títulos públicos, a classe de crédito privado permanece altamente atrativa para gestores e investidores.

Durante a Expert XP, Pierre Jadoul, diretor de crédito privado da ARX Investimentos, questionou se os spreads caíram mais do que deveriam. No entanto, ele ressaltou que “o ponto de equilíbrio agora é diferente e será mais baixo. NTN-B + 0,8 ponto percentual ficou no passado”, destacando que encontrar títulos empresariais que paguem IPCA + 5,80% ao ano, enquanto o Tesouro IPCA+ tem um juro real de 5%, será cada vez mais raro. Jadoul também observou que as mudanças no mercado geram exageros, especialmente à medida que os investidores buscam alternativas às tradicionais LCIs e LCAs.

Com a crescente demanda e as empresas buscando cada vez mais o mercado de crédito privado para financiar suas operações, o segmento vem se desenvolvendo de forma acelerada. Daniela Gamboa, head de crédito privado e imobiliário da SulAmérica Investimentos, comentou que o mercado secundário cresceu significativamente, com mais de R$ 1 bilhão em debêntures sendo negociadas diariamente. Além disso, ela destacou a importância dos fundos de investimento, que permitem aos investidores acessar diversas estratégias conforme seus objetivos e perfis de risco. “Temos mais gestores, mais casas e estilos distintos operando o mesmo mercado”, pontuou Gamboa.

No entanto, os especialistas também indicam que, apesar do cenário otimista, existem desafios no horizonte. A XP Asset projeta um ciclo de alta que pode elevar a taxa Selic para 12,50% ao ano, o que traria impactos negativos para a dívida das empresas. Fábio de Oliveira, gestor de renda fixa e crédito privado da XP Asset, sugere que os investidores evitem, por enquanto, empresas altamente endividadas.

Oliveira também reforça que, em termos de segurança, os ativos bancários, como LCIs, LCAs e CDBs, são opções mais conservadoras. Logo em seguida, vêm os papéis de empresas reguladas dos setores de energia, saneamento e rodovias, que apresentam maior segurança e liquidez. Para complementar a proteção do portfólio, o gestor recomenda diversificação, incluindo ativos indexados ao IPCA, que pode ser uma escolha estratégica diante do cenário de aperto monetário que se aproxima.

Os gestores de fundos ainda enfatizam a importância de ter uma carteira diversificada que inclua o crédito privado, independentemente do ciclo econômico. “Estamos em um ótimo momento para o crédito privado, mas não vejo isso como modismo. Temos produtos atrativos o suficiente para sempre haver espaço em qualquer portfólio”, afirmou Gamboa.

Jadoul complementa, criticando a postura de alguns investidores que estão sempre em busca da “bola da vez” ao invés de focar na construção de um portfólio que realmente se alinhe às suas necessidades e perfil de risco. Segundo ele, o foco deve estar na diversificação, a chave para um portfólio robusto e preparado para enfrentar as diversas fases do mercado.

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